4. (UFT) Leia o fragmento de texto a seguir. Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo
sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.
– Mãezinha, cadê a janta?
– Cala a boca, menino! Já vem!
– Vem lá o quê!…
Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos… nem um triste vintém
azinhavrado…
Lembrou-se da rede nova, grande e de listras que comprara em Quixadá por
conta do vale de Vicente.
Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do que ver os meninos
chorando, com a barriga roncando de fome.
Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo dum velho pau-
branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao tempo, porque aqueles cepos
apontados para o céu não tinham nada de abrigo.
O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:
– Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito…
Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e um litro de farinha:
– Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu isso, e ainda por
cima se fazendo de compadecido…
Faminta, a meninada avançou; e até Mocinha, sempre mais ou menos calada e
indiferente, estendeu a mão com avidez.
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1979, p. 33.
“O Quinze”, romance de estreia de Rachel de Queiroz, publicado em 1930,
retrata a intensa seca que marcou o ano de 1915 no sertão cearense. Explique
com suas palavras características marcantes da obra.